Facturas "esquecidas" dominam comissão, mas desemprego e cortes é que mobilizam oposição
O PS solicitou a ida do ministro Miguel Relvas à comissão da Educação, Ciência e Cultura para conhecer em detalhe o processo de fusão entre os institutos da Juventude e do Desporto e à extinção da MOVIJOVEM e da Fundação para a Divulgação das Tecnologias da Informação. Só que na primeira oportunidade que teve, o governante falou das pastas arquivadoras que levava consigo com quase 700 facturas por pagar recentemente encontradas nas instalações do Instituto do Desporto e que não constam da respectiva contabilidade.
Aparentemente, a oposição foi apanhada de surpresa e só mais tarde reagiria à revelação das facturas esquecidas, principalmente o PS, que governava na altura, enquanto o resto da esquerda (PCP e BE) apontou aos valores das poupanças com fusões e ao desemprego que daí advirá. A primeira a levantar a questão do desemprego que o "emagrecimento" anunciado vai causar foi a deputada comunista Rita Rato: "Quantos postos de trabalho vão à vida", quis saber a jovem deputada comunista. Depois, Rita Calvário (BE) mostrou-se descrente com o valor de 14 milhões de euros que irá resultar das fusões e extinções que estavam em cima da mesa do debate. "É preciso especificar", exigiu.
O socialista Rui Jorge Santos acusou Relvas de ter ido "fazer o número das facturas mediáticas" e dar "alguns palpites", entre que quer poupar entre 10 e 14 milhões de euros nas fusões e extinções "sem dizer como". "Quantos, onde e quando" vão ser despedidos era a pergunta que se impunha, na sua opinião. Para desacreditar os números do Governo, fez as contas antes e disse que se vão deixar de existir 70 quadros dirigentes, era preciso que cada um ganhasse 200 mil euros por ano para conseguir atingir tal verba. A sua colega de bancada Inês Medeiros insistiu no tema para dizer que "o peso do despedimento e do desemprego estão ausentes" do discurso do Governo, "ao contrário do que aconteceu" antes das eleições e os dois partidos que o integram - PSD e CDS - estavam na oposição.
Nas respostas, o ministro afirmou: "O despedimento não existe na nossa prática, há rescisões amigáveis". Mas depois confessaria que a questão do desemprego é a "principal preocupação" do governo. Chamou-lhe mesmo "praga" e tragédia". Quanto às poupanças, não especificou mas disse que os 14 milhões da poupança vão servir para reactivar a Ocupação de Tempos Livres (OTL) para jovens que acusou o PS de ter cancelado há dois anos por falta de verba. E viu-se ainda confrontado com uma acusação indirecta de desconhecer a Constituição da República ao ter afirmado que não compete ao Governo definir as políticas de juventude. A deputada Rita Rato virou-se para o seu computador portátil, foi à procura da Lei Fundamental e desmentiu Relvas: "Continua aqui no artigo 70.º - compete ao Estado..."
AMN.